As vaias ao francês Lavillenie mostram que a cultura do ódio triunfou entre nós. Por Paulo Nogueira
O brasileiro está doente. Socialmente doente. Foi chocante, foi depressivo ver as vaias ao francês Renaud Lavillenie na noite em que o brasileiro Thiago Braz recebeu no Estádio Olímpico sua medalha de ouro.
Os sociólogos terão que reescrever o nosso perfil. Éramos um povo cordial, segundo os especialistas.
Somos hoje uma nação de gente cheia de ódio.
A primeira vaia a Lavillenie já fora um horror. Foi quando ele foi batido por Thiago.
Isso não é civilização.
A segunda, na entrega das medalhas, foi ainda pior.
Não há grandeza na vitória quando o vencedor se comporta desta maneira. É moralmente repulsivo.
O francês já experimentara seu castigo: a derrota numa prova em que ele era um dos grandes favoritos.
Já é um suplício. Jamais esqueceremos as lágrimas copiosas de Djokovic ao ser batido no torneio de tênis. Sua alma estava despedaçada.
Alguém acha que Lavillenie estava numa situação melhor que a de Djokovic ao ser derrotado? Uma das imagens mais desoladoras dos Jogos do Rio foi o choro quieto de Lavillenie no palco. Nem assim os brasileiros foram misericordiosos.
O público já mostrara uma atitude patológica ao vaiar o maior rival de Bolt, Gatlin.
"Não é exatamente uma cena comum", disse o comentarista da BBC diante dos apupos, desagradavelmente surpreso.
O crime de Gatlin era o de ser o adversários mais qualificado de Bolt.
Os atletas olímpicos fazem monumentais sacrifícios para nos proporcionar momentos de encanto duradouros. Treinam duramente enquanto descansamos. Esfolam-se em disputas massacrantes enquanto os vemos com nossos traseiros no sofá, pipoca nas mãos.
Vaiá-los não é apenas prova de déficit civilizatório. É um ato de suprema ingratidão diante de quem nos entretém tanto.
Fomos sempre assim, e apenas nos iludíamos com a tese de que éramos gentis?
Ou alguma coisa aconteceu e destruiu nosso caráter?
Suspeito — apenas suspeito — que a campanha de ódio das grandes empresas de mídia tenha um papel relevante em nossa transformação negativa.
Cabe aos sociólogos investigar o fenômeno. E não estou incluindo aí o outrora cientista social FHC, hoje um miserável golpista e um propagador de ódio.
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